A maioria das multas canceladas por uma quadrilha que agia no Detran-PB foram causadas pela Lei Seca, oriundas de bafômetros. Durante a investigação, mais de duas mil multas foram canceladas num período de 20 dias, o que resultou num prejuízo milionário aos cofres públicos. A informação foi confirmada pelo delegado Elton Vinagre, nesta quinta-feira (20), ao Programa Hora H.
“Estão fazendo esse mapeamento de todas as pessoas que tiveram essas multas irregularmente canceladas. Em sua grande maioria, vale salientar, são multas oriundas de bafômetro, de blitz, de Lei Seca. Então são multas realmente caras, foi um prejuízo muito grande para os cofres públicos (…) a gente conseguiu identificar mais de duas mil multas canceladas de forma regular em apenas 20 dias”, relatou.
De acordo com o delegado, a organização era dividida em diversos núcleos. O grupo atuava em João Pessoa no cancelamento irregular de multas de trânsito. A ação, batizada de “Reset”, cumpre sete mandados de prisão e mandados de busca e apreensão.
“A organização criminosa se dividia por núcleos, tem um núcleo principal, que seria o núcleo gerencial administrativo, ou seja, são aquelas pessoas que faziam a captação de clientes, clientes entre aspas, são pessoas que queriam limpar suas multas, queriam que as multas fossem canceladas. A partir desse momento ele repassava informações para os demais núcleos, um operacional que fazia o cancelamento propriamente dito e também tem o núcleo técnico. A gente conseguiu identificar algumas pessoas com com formação acadêmica na área de TI informática e também o núcleo financeiro que fazia essa captação do dinheiro e fazia distribuição do lucro dos lucros entre os membros”, complementou.
A investigação revelou um esquema sofisticado que envolvia ex-servidores do DETRAN, agentes públicos, hackers e despachantes. Utilizando-se de credenciais de acesso válidas, o grupo inseria dados falsos no sistema para justificar os cancelamentos irregulares de multas. A organização atuava em quatro núcleos distintos, cada um com funções específicas:
Como funcionava o esquema?
A organização criminosa atuava da seguinte forma:
– Captação de clientes: O “Núcleo Administrativo/Gerencial”, composto por ex-servidores do DETRAN e despachantes, era responsável por encontrar pessoas interessadas em “limpar” suas infrações de trânsito.
– Acesso ao sistema: O “Núcleo Operacional”, munido das informações fornecidas pelo núcleo administrativo e utilizando credenciais de acesso válidas, acessava o sistema do DETRAN para realizar os cancelamentos fraudulentos.
– Justificativa falsa: Para evitar suspeitas, o “Núcleo Operacional” inseria no sistema números de processos existentes no PBDOC (sistema de processos administrativos), mas que não tinham nenhuma relação com os recursos de multas. Essa manobra dava uma aparência de legalidade aos cancelamentos.
– Tecnologia para agilizar os crimes: O “Núcleo Técnico”, formado por especialistas em informática (hackers), desenvolvia ferramentas tecnológicas para automatizar o acesso clandestino ao sistema do DETRAN e realizar cancelamentos em massa de multas.
– Distribuição dos lucros: O “Núcleo Financeiro” era responsável por recolher o dinheiro dos clientes e distribuir os lucros entre os membros da organização, de acordo com a participação de cada núcleo no esquema.